Marcelo
Odebrecht e Dilma Rousseff
(Foto:
Giuliano Gomes/PR PRESS; Dida Sampaio/Estadão )
|
Empreiteiro revelou que pagou
R$ 50 milhões à campanha do PT como 'contrapartida' a aprovação de MP em 2009;
Dilma chamou declarações de 'levianas' e exigiu que empresário comprove.
O empresário Marcelo Odebrecht,
ex-presidente da empreiteira Odebrecht, afirmou em depoimento ao Tribunal
Superior Eleitoral (TSE) no início de março que a ex-presidente Dilma Rousseff
sabia da "dimensão" das doações por meio de caixa 2 feitas pela
empresa à campanha da petista à reeleição.
A informação foi divulgada pelo
site "O Antagonista" e confirmada posteriormente pela TV Globo.
O executivo falou ao TSE como
testemunha nas ações que tramitam no tribunal pedindo a cassação da chapa Dilma
Rousseff-Michel Temer por suposto abuso de poder político e econômico na
eleição presidencial de 2014.
Em nota, a ex-presidente Dilma
negou as informações, chamou a declaração de "leviana" e pediu que o
empresário comprove o que disse ao tribunal (leia a íntegra da nota ao final
desta reportagem).
Ao ser questionado pelo juiz
auxiliar Bruno César Lorencini sobre se teria conversado com Dilma a respeito
da campanha de 2014, Marcelo Odebrecht negou.
Ele, porém, disse que a então
presidente e candidata à reeleição sabia da "dimensão" das doações e
que os pagamentos não constavam da prestação de contas do PT.
"A Dilma sabia da dimensão da
nossa doação, e sabia que nós éramos quem doá... quem fazia grande parte dos
pagamentos via caixa dois para [o marqueteiro] João Santana. Isso ela
sabia", disse Odebrecht no depoimento.
Questionado novamente sobre as
doações, dessa vez pelo ministro Herman Benjamin, Marcelo Odebrecht afirmou:
"O que Dilma sabia era que a
gente fazia, tinha uma contribuição grande – a dimensão da nossa contribuição
era grande, ela sabia disso – e ela sabia que a gente era responsável por
muitos pagamentos para o João Santana. Ela nunca me disse que sabia que era
caixa 2, mas é natural, é só fazer uma... ela sabia que toda aquela dimensão de
pagamentos não estava na prestação do partido", disse o empresário.
Ele reiterou, em outro momento do
depoimento, que nunca ouviu de Dilma que ela sabia que os repasses eram feitos
de forma irregular.
"Eu não sei especificar o
momento em que eu tive essa conversa com ela, mas isso sempre ficou evidente, é
que ela sabia dos nossos pagamentos para o João Santana. Isso eu não tenho a
menor dúvida", complementou.
Em depoimento ao TSE, Marcelo
Odebrecht afirma que Dilma sabia de repasses de caixa dois
Lula e Palocci
Marcelo Odebrecht afirmou no
depoimento que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o ex-ministro da
Casa Civil Antônio Palocci foram os responsáveis por arrecadar dinheiro para a
campanha de Dilma Rousseff à Presidência em 2010.
Durante o depoimento, o
empreiteiro narrou que, a partir de 2011, quando Dilma já exercia seu primeiro
mandato, a petista passou a tratar da "relação" do PT com a
Odebrecht.
Antes, segundo ele, quem cuidava
da arrecadação para o partido era Palocci e, durante a campanha de 2010, Lula.
"Ela [Dilma] começou a
cuidar, digamos assim, da relação - porque 2010 ela praticamente nem olhou as
finanças, acho que todos os pedidos de doação foram feitos por Lula, Palocci,
ela nem se envolvia em 2010", afirmou o ex-presidente da Odebrecht.
Em nota (leia a íntegra ao
final desta reportagem), o Instituto Lula informou que o ex-presidente
"jamais solicitou qualquer recurso indevido para a Odebrecht ou qualquer
outra empresa para qualquer fim".
Campanha à reeleição
No depoimento, Marcelo Odebrecht
disse ao ministro que "inventou" a campanha de Dilma à reeleição em
2014. Como exemplo, disse que os valores a serem doados para a equipe da
petista foram definidos por ele.
"A campanha presidencial de
2014, ela foi inventada primeiro por mim, tá? E... eu não me envolvi na maior
parte das demais campanhas, mas a... a eleição presidencial foi... eu conheço
ela... os valores foram definidos por mim", afirmou o empresário.
Além disso, Odebrecht afirmou que
em 2014 a ex-presidente orientou a empresa a concentrar todos os recursos que
seriam doados ao PT para a campanha dela à reeleição.
O empresário disse, porém, que,
antes disso, Dilma nunca havia pedido "nada para ela".
Segundo ele, em uma conversa com
Guido Mantega, o ex-ministro relatou a ele: "Marcelo, a orientação dela
[Dilma] é que todos os recursos de vocês vão para a campanha dela. Você não vai
mais doar para o PT, você só vai doar para a campanha dela, basicamente para as
necessidades da campanha dela: João Santana, Edinho Silva ou esses partidos da
coligação".
Contrapartida
Em outro trecho do depoimento, ele
disse que a empresa
doou R$ 150 milhões à chapa Dilma-Temer na eleição de 2014, mas não
precisou quanto do valor foi doado por meio do caixa oficial e quanto entrou
via caixa dois.
"Cento e cinquenta [milhões].
[...] Nós tínhamos uma relação intensa com o governo. Essa relação intensa, ela
gerava também a expectativa de que a gente fosse um grande doador. Então, eu,
para não ser pego de calças curtas, eu sempre tentava negociar com meus
empresários um valor que, na hora que viesse essa demanda do governo, eu
tivesse, da parte deles, uma segurança de que esse recurso haveria",
explicou o empresário.
Desse valor, segundo o depoimento,
R$ 50 milhões seriam uma "contrapartida específica" à aprovação em
2009, pelo Congresso, de uma medida provisória que beneficiava diversas
empresas do setor.
A medida provisória 470/2009,
conhecida como MP do Refis, foi editada pelo governo do ex-presidente Luiz
Inácio Lula da Silva (PT).
"Nesse caso desses cento e
cinquenta, tem um detalhe específico que é o seguinte: cinquenta milhões,
desses cento e cinquenta, de fato, veio em cima de um pedido, de uma
contrapartida específica, de um tema que é de 2009. Então, em 2009, houve, de
fato, para esse caso, uma contrapartida específica para a aprovação de um
projeto de lei que atendia a várias empresas. E esses cinquenta milhões vieram
com um pedido para a campanha de dois mil e dez. Só que acabou não indo para a
campanha de 2010, não sendo utilizado na campanha de 2010, e acabou sendo
utilizando na campanha de dois mil e quatorze", afirmou.
Segundo Odebrecht, o acerto para a
doação de R$ 50 milhões foi feito diretamente com o ex-ministro da Fazenda
Guido Mantega.
O empresário disse que Mantega era
o responsável no governo Dilma por tratar de doações com as empresas. Antes,
durante o governo Lula, o responsável por tratar de pagamentos ao governo e ao
PT era o também ex-ministro Antônio Palocci, de acordo com Marcelo Odebrecht.
"Então, você estava no meio
de negociação para discurtir Refis, várias empresas. Eu não sei que tipo de
abordagem eles fizeram com as outras empresas, não tenho conhecimento. Sei que,
no meu caso específico, em... em uma dessas reuniões, acho – porque eu tinha
reuniões com outras empresas, eu tinha algumas reuniões a sós – em uma delas,
ele [Guido Mantega] anotou no papel e disse: 'Olha, Marcelo, eu tenho a
expectativa de que você contribua para a campanha de 2010 com cinquenta
milhões'. Isso foi com o Guido", disse.
De acordo com o ex-presidente da
Odebrecht, o valor acabou ficando para 2014 porque, segundo ele, Mantega só se
envolveu diretamente e passou a solicitar recursos para o PT a partir de 2011,
"quando o Palocci saiu da Casa Civil".
"Até então, era com o Palocci
a maior parte dos pedidos que tinha o PT", complementou.
Conta do PT na Odebrecht
No depoimento, Marcelo Odebrecht
disse que o PT tinha uma conta corrente na empreiteira que era utilizada,
inclusive, para pagamentos que deveriam ser feitos ao marqueteiro João Santana.
De acordo com o empresário, a
conta foi administrada inicialmente pelo ex-ministro Antônio Palloci e, em um
segundo momento, por Guido Mantega.
Segundo Odebrecht, a conta, embora
administrada por petistas, tinha como principal objetivo atender às
necessidades da Presidência da República, primeiro de Lula e depois de Dilma.
"Quando eu digo PT é com a
Presidência, quer dizer, Guido... Não tinha envolvimento, não tinha nada a ver
com a relação dos meus outros empresários – certo? – com o PT. Não tinha
relação, por exemplo, com o [João] Vaccari, algumas vezes a pedido de Palocci
ou Guido, a gente ajudou o Vaccari a fechar a conta do PT. Mas o Vaccari foi e
pediu para eles, eles me pediram e eu autorizei, porque saiu da conta. Mas não tinha
relação [com o PT]", disse no depoimento.
'Amigo'
De acordo com a reportagem do
"Antagonista", confirmada pela TV Globo, documentos apresentados pela
Odebrecht ao TSE apontam que houve movimentação financeira na conta corrente
mantida pela empreiteira e vinculada ao PT.
A movimentação teria sido feita
entre outubro de 2013 e março de 2014 pelo ex-presidente Lula.
Em uma planilha enviada ao
tribunal, há três
codinomes vinculados à conta: "Itália",
"Amigo", e "Pós Itália". Segundo Marcelo Odebrecht, os
codinomes se referiam, respectivamente, a Antônio Palocci, Lula e Guido
Mantega.
Na planilha, há dados sobre o
saldo em 22 de outubro de 2013, que era de R$ 71 milhões. Em 31 de março de
2014, o saldo da conta era de R$ 66 milhões.
A assessoria de Lula diz que o
ex-presidente "não tem nenhuma relação com qualquer planilha na qual
outros se referem a ele como 'amigo', que essa planilha nem esse apelido são de
sua autoria ou do seu conhecimento."
Doação para instituto
Além dos depoimentos, os
ex-executivos entregaram documentos ao TSE para ilustar o que relataram ao
ministro.
Em um desses documentos,
disponibilizado pelo ex-diretor do Departamento de Operações Estruturadas
Hilberto Mascarenhas, há o registro de uma doação de R$ 4 milhões da Odebrecht,
feita em 2014. Ao lado do valor da doação, aparece escrito: "Doação
Instituto 2014!".
A reportagem do
"Antagonista" afirma que o valor foi destinado ao Instituto Lula,
entidade que representa o ex-presidente.
O departamento que era chefiado
por Mascarenhas ficou conhecido como setor de propinas da Odebrecht.
Em nota, o Instituto Lula informou
que todas as doações, incluindo as da Odebrecht, foram "devidamente
registradas, com os nomes das empresas doadoras e com notas fiscais
emitidas". Além disso, as notas "foram entregues para a Receita
Federal em dezembro de 2015 e já tornadas públicas há mais de 1 ano".
O que disseram os citados
Dilma Rousseff
Leia a íntegra da nota divulgada
pela assessoria de imprensa de Dilma:
NOTA À IMPRENSA
Não adianta lançarem novas
mentiras contra Dilma Rousseff
A respeito de informações
publicadas nesta quinta-feira, 23, sobre um supostas declarações, avisos e
afirmações atribuídas ao empresário Marcelo Odebrecht, a Assessoria de Imprensa
de Dilma Rousseff esclarece:
1. A ex-presidenta Dilma
Rousseff não tem e nunca teve qualquer relação próxima com o empresário Marcelo
Odebrecht, mesmo nos tempos em que ela ocupou a Casa Civil no governo Lula.
2. É preciso deixar claro:
Dilma Rousseff sempre manteve uma relação distante do empresário, de quem tinha
desconfiança desde o episódio da licitação da Usina de Santo Antônio.
3. Dilma Rousseff jamais pediu
recursos para campanha ao empresário em encontros em palácios governamentais,
ou mesmo solicitou dinheiro para o Partido dos Trabalhadores.
4. O senhor Marcelo Odebrecht
precisa incluir provas e documentos das acusações que levanta contra a
ex-presidenta da República, como a defesa de Dilma solicitou – e teve negado os
pedidos – à Justiça Eleitoral. Não basta acusar de maneira leviana.
5. É no mínimo estranho que,
mais uma vez, delações sejam vazadas seletivamente, de maneira torpe, suspeita
e inusual, justamente no momento em que o Tribunal Superior Eleitoral, órgão
responsável pelo processo que analisa a cassação da chapa Dilma-Temer, está
prestes a examinar o relatório do ministro Herman Benjamin.
6. Espera-se que autoridades
judiciárias, incluindo o presidente do TSE, Gilmar Mendes, e o procurador-geral
da República, Rodrigo Janot, venham a público cobrar a responsabilidade sobre o
vazamento de um processo que corre em segredo de Justiça.
7. Apesar das levianas
acusações, suspeitas infundadas e do clima de perseguição, criado pela
irresponsável oposição golpista desde novembro de 2014 – e alimentada
incessantemente por parcela da imprensa – Dilma Rousseff não foge da luta. Vai
até o fim enfrentando as acusações para provar o que tem reiterado desde antes
do fraudulento processo de impeachment: sua vida pública é limpa e honrada.
ASSESSORIA DE IMPRENSA
DILMA ROUSSEFF
Luiz Inácio Lula da Silva
Leia abaixo a íntegra da nota divulgada
pelo Instituto Lula:
O ex-presidente Lula teve seus
sigilos fiscais e telefônicos quebrados, sua residência e de seus familiares
sofreu busca e apreensão há mais de um ano, mais de 70 testemunhas foram
ouvidas em processos e não foi encontrado nenhum recurso indevido para o
ex-presidente.
Lula jamais solicitou qualquer
recurso indevido para a Odebrecht ou qualquer outra empresa para qualquer fim e
isso será provado na Justiça. Lula não tem nenhuma relação com qualquer
planilha na qual outros se referem a ele como "amigo", que essa
planilha nem esse apelido são de sua autoria ou do seu conhecimento, por isso
não lhe cabe comentar depoimento sob sigilo de justiça vazado seletivamente e
de forma ilegal.
Todas as doações para o
Instituto Lula, incluindo as da Odebrecht estão devidamente registradas, com os
nomes das empresas doadoras e com notas fiscais emitidas, foram entregues para
a Receita Federal em dezembro de 2015 e já tornadas públicas há mais de 1 ano.
Odebrecht
Leia abaixo a íntegra da nota da
Odebrecht:
A Odebrecht não se manifesta
sobre o teor de eventuais depoimentos de pessoas físicas, mas reafirma seu
compromisso de colaborar com a Justiça. A empresa está implantando as melhores
práticas de compliance, baseadas na ética, transparência e integridade.
Guido Mantega e Antônio Palocci
A defesa de Guido Mantega e de
Antônio Palocci disse que não vai cometer a "leviandade" de comentar
trechos de depoimentos sem conhecer a íntegra do que foi dito ao TSE.
TV Globo e G1, Brasília
0 comentários:
Postar um comentário
Obrigado pelo seu comentario.
Fique sempre ligado do que acontece em nossa cidade!