© André
Dusek/Estadão Segundo Meirelles, no momento,
não há
necessidade de trazer a CPMF de volta
|
BRASÍLIA - Um dia após crescerem
os rumores sobre uma eventual candidatura de Michel Temer a um segundo mandato,
o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, admitiu nesta quinta-feira, 22, que
pode disputar o Palácio do Planalto contra o presidente. Pela primeira vez,
Meirelles afirmou que nem mesmo a entrada de Temer no páreo inibiria sua
intenção de concorrer à eleição de outubro.
“Seria uma competição”, disse o
ministro ao Estadão/Broadcast. “Evidentemente, com mais candidatos
fora dos dois extremos, a competição seria maior”, completou ele. Para
Meirelles, a participação de Temer “não invalidaria” sua candidatura, mas
apenas elevaria as alternativas no centro político.
Até agora, porém, o titular da
Fazenda enfrenta dificuldades para pôr seu projeto eleitoral de pé. O PSD,
partido ao qual é filiado, articula apoio ao governador de São Paulo, Geraldo
Alckmin (PSDB). A negociação inclui a vaga de vice na provável chapa liderada
pelo prefeito João Doria (PSDB) ao governo paulista. Nesse caso, o ministro de
Ciência, Tecnologia e Comunicações, Gilberto Kassab, chefe do PSD, reforçaria a
dobradinha com Doria.
Diante do “abandono” do PSD,
Meirelles passou a conversar com o MDB de Temer e partidos menores, como o PRB,
que também flerta com o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ) – outro
pré-candidato ao Planalto no espectro de centro. Dirigentes do MDB afirmam que
a migração de Meirelles para a sigla é considerada, mas nada está fechado. O
ministro tem dito que não aceitará ser vice. Ele pode mudar de partido até 7 de
abril e, se decidir mesmo disputar a Presidência, terá de sair da Fazenda até
essa data.
“Ainda não parei para tomar a decisão. Não
acho razoável um ministro de Estado já em campanha”, argumentou Meirelles.
“Tenho que analisar a viabilidade político-partidária para avaliar a disposição
de concorrer.”
Antes, em entrevista à Rádio
Itatiaia, de Minas, o titular da Fazenda disse estar “contemplando” o cenário,
com a possibilidade de entrar na corrida presidencial. Questionado se aceitaria
continuar no comando da economia se for indicado para o mesmo cargo pelo
próximo governante, em 2019, Meirelles foi mais enfático sobre seus planos
eleitorais. “Acho que a etapa como ministro da Fazenda é uma etapa cumprida.
Estamos agora contemplando essa nova etapa de uma possível candidatura à
Presidência.”
No Planalto, as declarações de
Meirelles foram interpretadas como tentativa de forçar uma decisão por parte do
presidente. Em entrevista à colunista do Estado Eliane
Cantanhêde, publicada em janeiro, Temer elogiou “a inteligência e a capacidade
política” do ministro, mas disse preferir que ele ficasse na direção da
economia.
O núcleo político do governo
defende a candidatura de Temer, ancorada pelo mote da intervenção na segurança
do Rio, mas avalia que o “lançamento” prematuro do seu nome, por parte do
marqueteiro Elsinho Mouco, não só causou desgaste como pode ter dado a
impressão de que a medida foi eleitoreira. O presidente não quer antecipar a
campanha para não ser ainda mais criticado. Dono de alta impopularidade, ele
pretende anunciar se será ou não candidato apenas no fim de maio ou em junho.
Previdência. O
problema é que, diferentemente de Temer, Meirelles precisa deixar o cargo até o
início de abril, se quiser concorrer ao Planalto. Nos bastidores,
interlocutores do ministro dizem que, com o fracasso da reforma da Previdência,
ele ficou sem sua principal bandeira: o ajuste das contas públicas. Além disso,
no melhor dos cenários, se Maia e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva
(PT) não forem candidatos, Meirelles não passa de 2% das intenções de voto,
segundo pesquisa Datafolha do fim de janeiro. No mesmo levantamento, Temer aparece
com 1% e o deputado Jair Bolsonaro (PSC-RJ) tem de 16% a 20% das preferências.
“Meu histórico me dá condição de
postular a candidatura. Não há dúvida de que estou pensando nisso”, comentou
Meirelles, em entrevista à rádio CBN. Na lista das condições para entrar no
páreo, ele citou a estrutura partidária, o tempo de TV e a avaliação de
pesquisas qualitativas sobre o perfil de candidato desejado pelos eleitores. O
maior tempo na propaganda política é do MDB de Temer.
A candidatura do presidente,
porém, enfrenta resistências até no MDB. A avaliação é de que, caso o partido
tenha concorrente próprio nessa disputa, sobrará menos dinheiro do fundo
eleitoral para ser distribuído aos candidatos a deputado. Alguns parlamentares,
no entanto, veem com bons olhos o nome de Meirelles por acreditar que ele teria
como financiar a maior parte da campanha.
A movimentação política de
Meirelles começou a aumentar no primeiro semestre de 2017. Em junho, ele abriu
conta no Twitter, na qual passou a postar notícias sobre resultados positivos
da economia, e contratou o marqueteiro Fábio Veiga, da agência Neovox, para
cuidar de sua imagem. No segundo semestre, iniciou maratona de entrevistas a
rádios e visitou igrejas evangélicas. Para ele, a viabilidade de sua
candidatura está atrelada ao crescimento, à recuperação do emprego e a um
estado de “bem-estar social”. / COLABORARAM EDUARDO RODRIGUES, CAIO
RINALDI e DANIEL WETERMAN
0 comentários:
Postar um comentário
Obrigado pelo seu comentario.
Fique sempre ligado do que acontece em nossa cidade!