Dos
entrevistados, 90% disseram não ter renda suficiente
para comprar a quantidade necessária de
alimentos.
(Foto: Reuters/Marco Bello)
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Pesquisa
reflete a deterioração da qualidade de vida na Venezuela por escassez de
alimentos e queda do poder aquisitivo. Mais da metade da população passou a
viver em pobreza extrema e admite já ter ido dormir com fome.
Em meio à grave
crise econômica, escassez e a maior superinflação do mundo, nove em cada dez
venezuelanos vivem abaixo da linha da pobreza, e mais da metade deles estão no
patamar da pobreza extrema, segundo um estudo divulgado nesta quarta-feira
(21).
De acordo com a
Pesquisa sobre Condições de Vida (Encovi), realizada anualmente pelas
principais universidades da Venezuela, os venezuelanos perderam em média 11
quilos em 2017. Seis em cada dez admitem já terem ido dormir com fome por falta
de comida.
Para
especificar a porcentagem da população na pobreza, os especialistas aplicaram
um questionário de 16 páginas e entrevistaram 6.168 famílias em todo o país.
A condição de
pobreza foi extraída dos dados coletados e analisados sob diferentes métodos,
como linha de pobreza, necessidades básicas insatisfeitas, e medição
multidimensional da pobreza.
Dentro das
respostas obtidas, os especialistas estabeleceram que 61,2% dos entrevistados
viviam em pobreza extrema, enquanto 25,8% foram considerados pobres – na soma,
praticamente nove em cada dez venezuelanos viveu na pobreza em 2017.
O estudo
refletiu uma dramática deterioração da qualidade de vida dos venezuelanos ao
avaliar o aumento da pobreza e sua incidência em emprego, educação,
criminalidade, nutrição e saúde em geral.
A pesquisa é
realizada anualmente desde 2014 pelas Universidade Central da Venezuela (UCV),
Universidade Simón Bolívar (USB) e a Universidade Católica Andrés Bello (UCAB).
Apenas 13%
"não pobres"
A socióloga
María Gabriela Ponce, da UCAB, afirmou que entre os resultados desta pesquisa
foi observado que a pobreza extrema aumentou na Venezuela de 23,6% para 61,2%
em quatro anos e quase dez pontos percentuais apenas entre 2016 e 2017. Ponce
exibiu um gráfico que mostra que em 2014 a pobreza extrema afligia 23,6% da
população – 2015 (49,9%), 2016 (51,5%) e em 2017 (61,2%).
As estatísticas
mostraram também que os domicílios considerados "não pobres" em 2014
representavam 51,6% dos consultados, enquanto em 2015 já eram apenas 27%,
passando em 2016 para 18,2% e a 13% em 2017.
Os
especialistas que participaram do estudo deixaram claro que estes dados não
refletem o impacto nos domicílios consultados sobre o processo de
hiperinflação, que estourou em outubro do ano passado – os dados foram
coletados entre julho e setembro de 2017.
Marianella
Herrera, pós-graduada em Nutrição Clínica na USB, disse que 64% dos
entrevistados relataram ter perdido uma média de 11 quilos no último ano por
não terem acesso a alimentos. Herrera relatou que 61% dos entrevistados disseram
ter "ido para a cama com fome" porque não tinham comida suficiente e
90% disseram que sua renda "não é suficiente" para comprar a
quantidade necessária de alimentos.
Jejum de
manhã
Os resultados
apresentados pela especialista em nutrição indicam que 63% das pessoas
praticaram "a estratégia" de "produzir alimentos em casa",
eliminaram refeições ou cortaram porções em seus pratos.
"Cerca de
20% não tomam café da manhã, e os lanches são praticamente inexistentes,
enquanto 70% dizem não ter suficiente para comprar alimentos saudáveis e
balanceados", disse Herrera. A especialista acrescentou que "80% dos
domicílios possuem algum grau de insegurança alimentar" e têm uma
"dieta anêmica".
Segundo Anitza
Freitez, especialista em Estudos Sociais da UCAB, três de cada quatro crianças
da população mais pobre entre as idades de três e 17 anos deixaram de
frequentar a escola com frequência devido à falta de comida.
O sociólogo da
UCV Roberto Briceño León, diretor da ONG Observatório Venezuelano de Violência
(OVV), disse que, de acordo com o estudo, a insegurança aumentou no país no ano
de 2017 – um em cada cinco foi vítima de um crime.
León apontou
que a violência "ocupou quase todo o país" – dados da pesquisa
mostram que apenas 10% das comunidades não registraram um crime violento.
Ainda segundo
León, 41% dos cidadãos entrevistados "sentem a necessidade de se
mudar" do bairro ou de sair da Venezuela – um número que aumentou
significativamente devido à "situação de violência sustentada e
grave" desde 2014, quando apenas 28% expressaram o desejo de se mudar.
Por Deutsche Welle
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