Outro
registro no livro de farmácia: pai de miliciano foi
"prontamente atendido" ao buscar
dipirona.
(Foto: Reprodução/Arquivo Pessoal)
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Grupo
criminoso tinha preferência na retirada de medicamentos do posto, segundo o MP.
Esquema foi mostrado na série Franquia do Crime, do G1.
A Vara Criminal
de Itaguaí (RJ) aceitou a denúncia do Ministério Público do Rio de Janeiro e
determinou a prisão preventiva de um miliciano acusado de comandar um esquema
de desvio de medicamentos de uma unidade de saúde da cidade, que fica na Região
Metropolitana do Rio. A coordenadora do posto foi proibida de assumir funções
públicas.
Segundo o
Ministério Público, a milícia chefiada por Wallace Batista de Oliveira,
conhecido como Magnum, tinha preferência na retirada de medicamentos da Unidade
Básica de Saúde de Chaperó, onde o atendimento deveria ser exclusivo a
pacientes.
O esquema
denunciado pelo MP foi revelado pelo G1 na série Franquia do Crime, que mostrou que as milícias
têm influência sobre uma população de 2 milhões de pessoas.
Na decisão, o
juiz Edison Ponte Burlamaqui afirma que Magnum, apontado como "autor
intelectual, mandante e artífice" do esquema, tinha por "perpetuar o
esquema de desvio de medicamentos engendrado com a atuação e colaboração
daquelas funcionárias públicas por ele cooptadas."
De acordo com o
MP, a coordenadora da unidade, Cíntia Pereira Machado, é suspeita de ter
determinado a funcionários da farmácia que atendessem "preferencial e
extraordinariamente" membros da milícia local, e de usar sua relação com
os integrantes da quadrilha para fazer ameaças à equipe.
Cíntia, de
acordo com a denúncia, intimidava os funcionários para que entregassem os
remédios aos milicianos, eventualmente se utilizando de ameaças verbais e
recebendo Magnum em sua sala. O juiz determinou o seu afastamento de qualquer
função pública e a proibiu de se aproximar das testemunhas do processo e dos
familiares delas.
Magnum
responderá pelo crime de receptação qualificada. Ele já é réu em outro processo
por porte ilegal de arma de fogo e receptação de veículo clonado. Cíntia vai
responder por peculato, que é quando um servidor se apropria de dinheiro ou
bens públicos, ou os desvia.
No depoimento
que prestou à polícia, em novembro passado, a Cíntia disse que não tem
conhecimento de entrega de medicamentos para milicianos, e negou que tenha sido
ameaçada por quem quer que seja para entregar medicamentos.
O G1 tentou
contato com os advogados dos citados no processo, mas não obteve resposta até a
publicação desta reportagem. A prefeitura de Itaguaí já havia afastado a
coordenadora e instaurado sindicância para apurar os fatos.
Retirada
registrada
Entre junho e
outubro de 2017, dezenas de remédios foram disponibilizados a milicianos e
parentes dos criminosos. Segundo o MP, a certeza da impunidade era tamanha que
os criminosos faziam questão de que a retirada dos insumos ficasse registrada
no livro de controle da unidade.
Pelo menos
cinco anotações foram feitas no livro de farmácia da unidade a pedido de
Cíntia. A reportagem teve acesso a duas dessas anotações, em que se lê, nos
meses de setembro e outubro de 2017, que foram disponibilizados comprimidos de
diferentes remédios para a milícia ou para o pai de um paramilitar (veja as
fotos abaixo).
Entre os
remédios entregues aos criminosos e pessoas ligadas a eles estão dezenas de
comprimidos de cefalexina, ibuprofeno e sulfadiazina de prata, no dia 24 de
junho de 2017; seis tubos de pomada de óxido de zinco em 14 de julho de 2017; e
dezenas de comprimidos de omeprazol em 11 de setembro.
Outras dezenas
de comprimidos de ibuprofeno, dipirona e captopril foram entregues em 27 de
setembro; e mais dezenas de comprimidos de dipirona no dia 19 de outubro.
- Cefalexina: antibiótico para infecção de garganta, ouvido,
infecção urinária, na pele ou nos músculos.
- Ibuprofeno: anti-inflamatório para dor, febre e
inflamação
- Sulfadiazina de prata: Creme para queimaduras de 2º
e 3º graus
- Óxido de zinco: creme para assaduras (utilizado em
recém nascidos)
- Omeprazol: remédio para gastrite e úlceras
gástricas
- Dipirona: analgésico utilizado para dores e febre
- Captopril: remédio para combate à hipertensão e
insuficiência cardíaca
Por G1 Rio
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